- Estás a ouvir? – Era a pergunta que lhe faziam frequentemente, á qual ela respondia sempre mentido. Ultimamente ela não prestava muita atenção ao que se passava á sua volta, bem dizendo, tentava não pensar nos problemas do seu mundo real. Já não ligava ao tagarelar das suas amigas e sempre que podia refugiava-se no seu mundo encantado.
Ela tinha uma personalidade muito forte e a maneira como estava a enfrentar este problema, admirava-a a si mesma, pois isto não era o seu normal. O seu refúgio era a praia, todos os dias, a única maneira de o rever, era contemplar o mar fechando os olhos e sentir aquela brisa bater-lhe na cara.
Apesar de saber que aquela não era a melhor maneira porque acabava sempre por sofrer, era a sua maneira, a única que encontrava. Assim que fechava os olhos, o seu mundo encanto aparecia, um mundo bem diferente do real, um mundo onde eles estavam juntos, e não havia a distancia que não permitia tocarem-se. Às vezes parecia que ela conseguia mesmo sorrir, as imagens que lhe passavam pela cabeça, eram as que a faziam mais feliz. Podiam passar-se horas, não se importava, o seu mundo encantado era o lugar preferido dela, mas de cada vez que abria os olhos, o mundo real desabava sobre si, as imagens apagavam-se (o mesmo acontecia ao sorriso que parecia ter, se é que ainda sabia sorrir), a distância, que só no seu intimo interior parecia ter desaparecido, continuava a ser um obstáculo insuportável.
Mesmo sabendo de tudo isto, todos os dias ela continuava a ir àquela praia, observar o horizonte, pensar na mesma pessoa. Mas, naquele dia, sentiu um aperto ainda mais forte, tinha sido exactamente á seis meses (meio ano), a ultima vez que o vira, e á medida que o tempo passava, a situação era mais difícil. A prática que exercera no objectivo de controlar os sentimentos, naquele dia não resultou, começou a chorar.
Desta vez até o seu mundo encantado a desiludira… abriu os olhos com o rosto encharcado de lágrimas e tentou que o mar lhe trouxesse alguma paz de espírito, observando-o. Depois, olhou para o areal que a rodeava e encontrou um pau, pegou nele e escreveu na areia
«SAUDADES TUAS».
E, suspirando, sorriu… era uma sensação estranha, mas no fundo a felicidade ainda estava dentro de si, e a força que tinha acabado de encontrar, era a certeza de o voltar a ver.